quarta-feira, 22 de abril de 2009

Primeira Crônica



Huum... Aquela noite de amor com livros novos, cheirando e ritmando o corpo, como quem o sintoniza com a alma. E é para mim tão facil esse encontro. É simples assim, eu escolho uma boa livraria - digo boa para aquelas bem grandes com os mais variados títulos surpreendentemente organizados - e entro. Simples assim, entrar numa dessas livrarias e não se preocupar com o tempo, se despir do mundo la fora e viver de personagem em personagem brincando de fingir ser outros "eus". Descobri ontem qual eu quero que seja meu primeiro emprego. Todo mundo reza tanto a primeira namorada, o primeiro beijo...tão importante quanto a primeira vez no sexo, é também o primeiro emprego. Ambos quando traumatizam o tornam por anos-luz improdutivo. Por isso, e também por um auxilio que recebo ainda dos meus amáveis pais, eu demorei tanto pra decidir o meu segundo emprego, tendo em vista que o primeiro, como uma paixão, das mais avassaladoras, entrou em mim trazendo a felicidade da realização e foi de mim como a agonia da desilusão e, por isso deve ser esquecido. Vendedora de livros, sim. Fiz ontem a minha escolha. E como um casal de amantes em sua lua de mel, estive a sorrir madrugada a dentro, como se essa minha decisão fosse me tornar capaz de ler todos os títulos cabíveis numa livraria num só dia. Madrugada a dentro, manhã lá fora. Assim começou um novo dia. E eu aqui, cheirando o sexo dos livros, comendo os livros... meus mais íntimos companheiros. Suas vozes falam ao meu coração sem nem ao menos tocarem meus ouvidos. Talvez por isso tão especiais. Tão menos capaz de me ferir com a mesma rigidez da voz que fala ao telefone às 10:54 da manhã, me tirando do paraiso como quem rouba Helena de Tróia de seu amante ... E nada como uma segunda mãe, uma má-drinha para o ressussitar dos seus delírios mais íngrimes e, ser tão bruta como a realidade da suz voz, conivente à mafia. A legalidade mais rústica: ela me lembrava que era preciso pegar meus trapos do chão, e pagar minhas contas ao leão. Imposto de renda, o estuprador mais agressivo da minha religião.

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